4. A CRÔNICA CONTEMPORÂNEA: LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO

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4.LUÍS  FERNANDO
VERÍSSIMO

Luis Fernando Veríssimo (Porto Alegre26 de setembro de 1936 é um escritorhumorista, cartunista,tradutorroteirista de televisão, autor de teatro e romancista bissexto. Já foi publicitário e revisor de jornal. É ainda músico, tendo tocado saxofone em alguns conjuntos. Com mais de 60 títulos publicados, é um dos mais populares escritores brasileiros contemporâneos. É filho do também escritor Érico Veríssimo.
Biografia
Formação
Nascido em Porto Alegre, Luis Fernando viveu parte de sua infância e adolescência nos Estados Unidos, com a família, em função de compromissos profissionais assumidos por seu pai - professor da Universidade da Califórnia em Berkeley (1943-1945) e diretor cultural da União Pan-americana em Washington, D.C. (1953-1956). Como consequência disso, cursou parte do primário em San Francisco e Los Angeles, e concluiu o secundário na Roosevelt High School, de Washington.
Aos 14 anos produziu, com a irmã Clarissa e um primo, um jornal periódico com notícias da família, que era pendurado no banheiro de casa e se chamava "O Patentino" (patente é como é conhecida a privada no Rio Grande do Sul).
No período em que viveu em Washington, Veríssimo desenvolveu sua paixão pelo jazz, tendo começado a estudar saxofone e, em frequentes viagens a Nova York, assistido a espetáculos dos maiores músicos da época, inclusive Charlie Parker e Dizzy Gillespie.
Primeiros trabalhos
De volta a Porto Alegre em 1956, começou a trabalhar no departamento de arte da Editora Globo. A partir de 1960, fez parte do grupo musical Renato e seu Sexteto, que se apresentava profissionalmente em bailes na capital gaúcha, e que era conhecido como "o maior sexteto do mundo", porque tinha 9 integrantes.
Entre 1962 e 1966, viveu no Rio de Janeiro, onde trabalhou como tradutor e redator publicitário, e onde conheceu e casou-se (1963) com a carioca Lúcia Helena Massa, sua companheira até hoje e mãe de seus três filhos (Fernanda, 1964; Mariana, 1967; e Pedro, 1970).
Em 1967, de novo em sua cidade natal, começou a trabalhar no jornal Zero Hora, a princípio como revisor de textos (copy desk). Em 1969, depois de cobrir as férias do colunista Sérgio Jockymann e poder mostrar a qualidade e agilidade de seu texto, passou a assinar sua própria coluna diária no jornal. Suas primeiras colunas foram sobre futebol, abordando a fundação do Estádio Beira-Rio e os jogos do Internacional, seu clube do coração. No mesmo ano, tornou-se redator da agência de publicidade MPM Propaganda.
Em 1970 transferiu-se para o jornal Folha da Manhã[1], onde manteve sua coluna diária até 1975, escrevendo sobre esporte, cinema, literatura, música, gastronomia, política e comportamento, sempre com ironia e ideias pessoais, além de pequenos contos de humor que ilustram seus pontos de vista.
Em 1971 criou, com um grupo de amigos da imprensa e da publicidade porto-alegrense, o semanário alternativo O Pato Macho, com textos de humor, cartuns, crônicas e entrevistas, e que vai circular durante todo o ano na cidade.
Primeiros livros publicados
Em 1973 lançou, pela Editora José Olympio, seu primeiro livro, O Popular, com o subtítulo "crônicas, ou coisa parecida", uma coletânea de textos já veiculados na imprensa, o que seria o formato da grande maioria de suas publicações até hoje. O livro de estreia de Veríssimo recebeu elogios do importante crítico literário Wilson Martins, em O Estado de S. Paulo.
Em 1975, voltou ao jornal Zero Hora, onde permanece até hoje, e passou a escrever semanalmente também no Jornal do Brasil, tornando-se nacionalmente conhecido.[1]Publicou nesse ano seu segundo livro de crônicas, A Grande Mulher Nua[1] e começou a desenhar a série "As Cobras", que no mesmo ano já rendeu uma primeira publicação de cartuns.
Em 1979, publicou seu quinto livro de crônicas, "Ed Mort e Outras Histórias", o primeiro pela Editora L&PM, com a qual trabalharia durante 20 anos. O título do livro refere-se àquele que viria a ser um dos mais populares personagens de Luis Fernando Veríssimo. Uma sátira dos policiais noir, imortalizados pela literatura de Raymond Chandler e Dashiell Hammett e por filmes interpretados por Humphrey Bogart, Ed Mort é um detetive particular carioca, de língua afiada, coração mole e sem um tostão no bolso, que passou a protagonizar uma tira de quadrinhos desenhada por Miguel Paiva e publicada em centenas de jornais diários, gerou uma série de cinco álbuns de quadrinhos (1985-1990) e ainda um filme com Paulo Betti no papel título.
Entre 1980 e 1981, Veríssimo viveu com a família por 6 meses em Nova York, o que mais tarde renderia o livro "Traçando Nova York", primeiro de uma série de seis livros de viagem escritos em parceira com o ilustrador Joaquim da Fonseca e publicados pela Editora Artes e Ofícios.
Características
. Observação e comentário do cotidiano;
. Humor ferino, mordaz, irônico;
. Linguagem coloquial, simples, ágil, perspicaz.
Popularidade nacional
Em 1981, o livro "O Analista de Bagé", lançado na Feira do Livro de Porto Alegre, esgotou sua primeira edição em dois dias, tornando-se fenômeno de vendas em todo o país. O personagem, criado (mas não aproveitado) para um programa humorístico de televisão com Jô Soares, é um psicanalista de formação freudiana ortodoxa, mas com o sotaque, o linguajar e os costumes típicos da fronteira do Rio Grande do Sul com o Uruguai e a Argentina. A contradição entre a sofisticação da psicanálise e a "grossura" caricatural do gaúcho da fronteira gerou situações engraçadíssimas, que Veríssimo soube explorar com talento em dois livros de contos, um de quadrinhos (com desenhos de Edgar Vasques) e uma antologia.
Em 1982 passou a publicar uma página semanal de humor na revista Veja, que manteria até 1989.
Em 1983, em seu décimo volume de crônicas inéditas, lançou um novo personagem que também faria grande sucesso, a Velhinha de Taubaté, definida como "a única pessoa que ainda acredita no governo". O ingênuo personagem, que dera a seu gato de estimação o nome do porta-voz do Presidente-General Figueiredo, marcava a decadência do governo militar brasileiro, que já estava quase completando 20 anos. Mas, anos depois, em plena democracia, Veríssimo faria reviver a Velhinha de Taubaté, ironizando a credibilidade dos presidentes civis, especialmente Fernando Collor e Fernando Henrique Cardoso.
Em toda a década de 1980, Veríssimo consolidou-se como um fenômeno de popularidade raro entre escritores brasileiros, mantendo colunas semanais em vários jornais e lançando pelo menos um livro por ano, sempre nas listas dos mais vendidos, além de escrever para programas de humor da TV Globo.
Em 1986, morou seis meses com a família em Roma, e cobriu a Copa do Mundo para a revista Playboy. Em 1988, sob encomenda da MPM Propaganda, escreveu seu primeiro romance, "O Jardim do Diabo".
Homem de ideias
Em 1989, começou a escrever uma página dominical para o jornal O Estado de S. Paulo, mantida até hoje, e para a qual criou o grupo de personagens da Família Brasil. No mesmo ano, estreou no Rio de Janeiro seu primeiro texto escrito especialmente para teatro, "Brasileiras e Brasileiros". E ainda recebeu o Prêmio Direitos Humanos da OAB.
Em 1990, passou 10 meses com a família em Paris e cobriu a Copa da Itália para os jornais Zero HoraJornal do Brasil e O Estado de S. Paulo, o que voltaria a fazer em 199419982002 e 2006.
Em 1991 publicou uma antologia de crônicas para crianças ("O Santinho", com ilustrações de Edgar Vasques) e outra para adolescentes ("Pai não Entende Nada").
Em 1994, a antologia de contos de humor "Comédias da Vida Privada" foi lançada com grande sucesso, vindo a tornar-se um especial da TV Globo (1994) e depois uma série de 21 programas (1995-1997), com roteiros de Jorge Furtado e direção de Guel Arraes. Veríssimo publicaria ainda uma nova antologia de contos, "Novas Comédias da Vida Privada" (1996) e, por contraste, uma série de crônicas políticas até então inéditas em livro, "Comédias da Vida Pública" (1995).
Em 1995, intelectuais brasileiros convidados pelo caderno "Ideias" do Jornal do Brasil elegeram Luis Fernando Veríssimo o Homem de Ideias do ano. A esta seguiram-se outras homenagens: em 1996, "Medalha de Resistência Chico Mendes" da ONG Tortura Nunca Mais, "Medalha do Mérito Pedro Ernesto" da Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro e "Prêmio Formador de Opinião" da Associação Brasileira de Empresas de Relações Públicas; culminando, em 1997, com o "Prêmio Juca Pato", da União Brasileira de Escritores como o Intelectual do ano. Em 1999, recebeu ainda o Prêmio Multicultural Estadão.
De volta à música
Ainda em 1995, por iniciativa do contrabaixista Jorge Gerhardt, foi criado o grupo Jazz 6, este certamente "o menor sexteto do mundo", com apenas 5 integrantes: além de Veríssimo no saxofone e Gerhardt no contrabaixo, fazem parte do grupo Luiz Fernando Rocha (trompete e flugelhorn), Adão Pinheiro (piano) e Gilberto Lima (bateria).
Sendo Gerhardt, Rocha, Pinheiro e Lima "músicos em tempo integral", o grupo depende da agenda de Veríssimo para se apresentar, mas já tem 13 anos de estrada e 4 CDs lançados: "Agora é a Hora" (1997), "Speak Low" (2000), "A Bossa do Jazz" (2003) e "Four" (2006).
Novos rumos
Em 1999, Veríssimo deixou de desenhar as tiras de "As Cobras" e mudou de editora, trocando a L&PM pela Objetiva, que passou a republicar toda a sua obra. Uma destas antologias, "As Mentiras que os Homens Contam" (2000), já vendeu mais de 350 mil exemplares.
Em 2003, resolveu reduzir seu volume de trabalho na imprensa, passando de seis para apenas duas colunas semanais, agora publicadas em Zero Hora, O Globo e O Estado de S. Paulo.
A partir de solicitações geradas pelas editoras, Veríssimo deixou de ser o "grande escritor de textos curtos" e emendou uma série de novelas e romances: "Gula - O Clube dos Anjos" (1998) coleção "Plenos Pecados" da Objetiva; "Borges e os Orangotangos Eternos" (2000), para a coleção "Literatura ou Morte" da Cia das Letras; "O Opositor" (2004) para a coleção "Cinco Dedos de Prosa" da Objetiva; "A Décima Segunda Noite" (2006), para a coleção "Devorando Shakespeare" da Objetiva; e ainda "Sport Club Internacional, Autobiografia de uma Paixão" (2004), para a coleção "Camisa 13" da Ediouro.
Em 2003, uma reportagem de capa da revista Veja destacou Veríssimo como "o escritor que mais vende livros no Brasil". Ao mesmo tempo, a versão em inglês de "Clube dos Anjos" ("The Club Of Angels") é escolhida pela New York Public Library como um dos 25 melhores livros do ano.
Em 2004, na França, recebeu o Prix Deux Oceans do Festival de Culturas Latinas de Biarritz.
Fatos recentes
Em 2006, Veríssimo chegou aos 70 anos de idade consagrado como um dos maiores escritores brasileiros contemporâneos, tendo vendido ao todo mais de 5 milhões de exemplares de seus livros. Em 2008, sua filha Fernanda deu-lhe a primeira neta, Lucinda, nascida no dia do aniversário do Sport Club Internacional, 4 de abril.
Em 21 de novembro de 2012, Luis Fernando foi internado em estado grave na UTI do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, devido a um quadro grave de gripe. Ele teve alta no dia 14 de dezembro.
Em 2014 foi homenageado pela escola de samba de Porto Alegre Imperadores do Samba com o enredo A Imperadores do Samba faz a justa homenagem aos personagens de Luis Fernando Veríssimo
Participou em 2015 em uma faixa do último CD da dupla gaúcha Kleiton & Kledir (Com Todas as Letras) como compositor e saxofonista.
Personagens
·         Ed Mort
·         Velhinha de Taubaté
·         Analista de Bagé
·         As Cobras
·         Família Brasil
·         Dora Avante
Livros publicados
Crônicas e contos (inéditos) O Popular
·         Amor Brasileiro (1977, ed. José Olympio)
·         O Rei do Rock (1978, ed. Globo)
·         Ed Mort e Outras Histórias (1979, ed. L&PM)
·         O Analista de Bagé (1981, ed. L&P
·         A Mesa Voadora (1982, ed. Globo)
·         Outras do Analista de Bagé (1982, ed. L&PM)
·         A Velhinha de Taubaté (1983, ed. L&PM)
·         A Mulher do Silva (1984, ed. L&PM)
·         A Mãe de Freud (1985, ed. L&PM)
·         O Marido do Doutor Pompeu (1987, ed. L&PM)
·         Zoeira (1987
·         Pai Não Entende Nada (1990, ed. L&PM)
·         O Santinho (1991, ed. L&PM)
·         Humor Nos Tempos do Collor (1992, ed. L&PM Com Millôr Fernandes e Jô Soares)
·         O Suicida e o Computador (1992, ed. L&PM)
·         Comédias da Vida Pública (1995, ed. L&PM)
·   A Versão dos Afogados - Novas Comédias da Vida Pública (1997, ed. L&PM)
·     A Mancha (2004, ed. Cia das Letras, coleção Vozes do Golpe)
·         Em Algum Lugar do Paraíso (2011, ed. Objetiva)
·         Diálogos Impossíveis (2012, ed. Objetiva)
·         Os Últimos Quartetos de Beethoven (2013, ed. Objetiva)
Crônicas e contos (antologias e reedições)
·         O Gigolô das Palavras (1982, ed. L&PM)
·         Comédias da Vida Privada (1994, ed. L&PM)
·         O Nariz e Outras Crônicas (1994, ed. Ática)
·         Novas Comédias da Vida Privada (1996, ed. L&PM)
·         Ed Mort, Todas as Histórias (1997, ed. L&PM)
·    Aquele Estranho Dia que Nunca Chega (1999, Editora Objetiva)
·    A Eterna Privação do Zagueiro Absoluto (1999, Editora Objetiva)
·         Histórias Brasileiras de Verão (1999, Editora Objetiva)
·         As Noivas do Grajaú (1999, ed. Mercado Aberto)
·         Todas as Comédias (1999, ed. L&PM)
·         Festa de Criança (2000, ed. Ática)
·    Todas as Histórias do Analista de Bagé (2002, Editora Objetiva)
·       Banquete Com os Deuses (2002, Editora Objetiva)
·    O Melhor das Comédias da Vida Privada (2004, Editora Objetiva)
·         Mais comédias para ler na escola (2008, Editora Objetiva)
·    O Mundo é Bárbaro, e o que Nós Temos a Ver com Isso (2008, Editora Objetiva)
·        Time dos Sonhos (2010, Editora Objetiva)
·        Amor Verissimo (2013, Editora Objetiva)
·         As Mentiras que as Mulheres Contam (2015, Editora Objetiva)
Novelas e romances
·     Pega pra Kapput (1978, ed. L± com Moacyr ScliarJosué Guimarães e Edgar Vasques)
·      O Jardim do Diabo (1987, ed. L&PM)
·  Gula - O Clube dos Anjos (1998, Editora Objetiva, coleção Plenos Pecados)
·      Borges e os Orangotangos Eternos (2000, ed. Cia das Letras, coleção Literatura ou Morte)
·     O Opositor (2004, Editora Objetiva, coleção Cinco Dedos de Prosa)
·   A Décima Segunda Noite (2006, Editora Objetiva, coleção Devorando Shakespeare)
·     Os Espiões (2009, Editora Objetiva)
Relatos de viagens
·    Traçando New York (1991, ed. Artes e Ofícios; com Joaquim da Fonseca)
·   Traçando Paris (1992, ed. Artes e Ofícios; com Joaquim da Fonseca)
·   Traçando Porto Alegre (1993, ed. Artes e Ofícios; com Joaquim da Fonseca)
·   Traçando Roma (1993, ed. Artes e Ofícios; com Joaquim da Fonseca)
·     América (1994, ed. Artes e Ofícios)
·     Traçando Japão (1995, ed. Artes e Ofícios; com Joaquim da Fonseca)
·    Traçando Madrid (1997, ed. Artes e Ofícios; com Joaquim da Fonseca)
Cartuns e quadrinhos
·     As Cobras (1975, ed. Milha)
·     As Cobras e Outros Bichos (1977, ed. L&PM)
·     As Cobras do Verissimo (1978, ed. Codecri)
·   O Analista de Bagé em Quadrinhos (1983, ed. L± com Edgar Vasques)
·     Aventuras da Família Brasil (1985, ed. L&PM)
·     Ed Mort em Procurando o Silva (1985, ed. L± com Miguel Paiva)
·     As Cobras, vols I, II e III (1987, ed. Salamandra)
·     Ed Mort em Disneyworld Blues (1987, ed. L± com Miguel Paiva)
·   Ed Mort em Com a Mão no Milhão (1988, ed. L± com Miguel Paiva)
·   Ed Mort em Conexão Nazista (1989, ed. L± com Miguel Paiva)
·   Ed Mort em O Sequestro do Zagueiro Central (1990, ed. L± com Miguel Paiva)
·    A Família Brasil (1993, ed. L&PM)
·     Pof (2000, ed. Projeto)
·    Aventuras da Família Brasil (reedição - 2005, Editora Objetiva)
·     "As Cobras - Antologia Definitiva" (2010, Editora Objetiva)
Outros
. O Arteiro e o Tempo (infantil; ed. Berlendis & Vertecchia; ilustrada por Glauco Rodrigues)
. Poesia Numa Hora Dessas?! (poemas; 2002, Editora Objetiva)
. Internacional, Autobiografia de uma Paixão (2004, ed. Ediouro).


 LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO - CARACTERÍSTICAS LITERÁRIAS

CRÔNICAS

"É um gênero literário que tem assumido no Brasil, além da personalidade de gênero, um desenvolvimento e uma categoria que fazem dela uma forma literária de requintado valor estético, um gênero específico e autônomo.
... A crônica é na essência uma forma de arte, arte da palavra, a que se liga forte dose de lirismo. É um gênero altamente pessoal, uma reação individual, íntima, ante ao espetáculo da vida, as coisas, os seres. O cronista é solitário com ânsia de comunicar-se. E ninguém melhor se comunica do que ele, através desse meio vivo, álacre, insinuante, ágil que é a crônica. A literatura, sendo uma arte – cujo meio é a palavra – e portanto oriunda da imaginação criadora, visando a despertar o prazer estético – nada mais literário do que a crônica, que não pretende informar, ensinar, orientar. Crônicas: leia o texto na íntegra no linkabaixo:http://ofiodaspalavras.blogspot.com/2004/10/ainda-sobre-lus-fernando-verssimo-o.html.
... As crônicas de Luís Fernando Veríssimo trilham dois caminhos. Num primeiro momento, percebemos a utilização do riso como provocação de reflexões em torno dos costumes. Atrás da comicidade das crônicas - “Anônimos” e “Realismo” -encontramos a utilização do riso como arma para a denúncia de comportamentos da sociedade.
... Deleitando-se com a língua portuguesa, Luís Fernando Veríssimo demonstra suas imensas possibilidades de provocar o riso...
... Algumas crônicas que melhor representam o emprego das técnicas do risível para o que, em um primeiro instante, parece ser apenas o encontro do prazer. “Defenestração”, “Palavreado”, “Bons tempos”, e “O gigolô das palavras” servem para a comprovação de que o riso na linguagem esconde algo mais do que uma simples liberação das tensões. As duas primeiras crônicas foram extraídas da recente coletânea Comédias para se ler na escola; encontramos “Bons tempos” no livro batizado de Zoeira e a crônica “O gigolô das palavras” nomeia a obra em que foi publicada.
    Assim como na vertente encabeçada por Aristóteles, que demonstra que riso se presta para punir os costumes, a linguagem empregada por Veríssimo como mecanismo para o surgimento de situações cômicas também serve para apontar uma realidade escamoteada pelo riso. A simples liberação de tensão e prazer, proposta por Platão e defendida por Freud, cede lugar para as reflexões em torno da linguagem e seu funcionamento.
A proposição de uma tipologia do riso na obra de Luís Fernando Veríssimo, portanto, divide-se em duas partes. Na primeira, encontramos a vertente do “punir pelo riso”, inaugurando assim o primeiro tipo de riso suscitado pela pena de Luís Fernando Veríssimo. A última parte propõe uma segunda tipologia do riso na obra do autor. A aparente brincadeira com a linguagem apresenta-se afinada com as considerações de liberação de prazer apontadas por Platão. Após observarmos as crônicas de Luis Fernando Veríssimo, somos capazes de perceber, além dos dois tipos de riso encontrados nos textos de Luís Fernando Veríssimo, “um segundo mundo e uma segunda vida” (BAKHTIN, 1999:4), proposto pelo riso.

aspf-letraviva.blogspot.com/2008/10/lus-fernando-verssimo-caractersticas.html
1.      

Luís Fernando Veríssimo fala da literatura como um mistério a ser solucionado

 

"O romance é sempre um desvendar de uma história que vai sendo revelada", diz o autor.

Por: Carlos André Moreira

Um dos cronistas mais lidos do Brasil, Luis Fernando Verissimo demorou a se engajar em uma carreira como ficcionista. Seu primeiro romance foi publicado em 1987, quando ele já era um dos homens de imprensa mais populares do país. Desde então, já publicou outros seis romances e alguns contos. O cerne de sua produção, ao longo de uma carreira que completou quatro décadas em 2013, contudo, está na crônica de imprensa, na qual hoje é reverenciado como mestre. Em nova entrevista da série Obra Completa, Verissimo recebeu Zero Hora em sua casa para falar dos caminhos de sua literatura – abertos ao acaso.

Zero Hora – Seus romances são ancorados no universo literário: são pastiches de gênero, homenagens a autores como Conrad ou John Le Carré...É a sua forma de lidar com o velho drama de que “tudo já foi escrito”?
Luis Fernando Verissimo – De certa forma, sim. Eu acho que todo romance, de certo modo, é uma narrativa policial, quer dizer, envolve uma investigação, um mistério que se resolve ou não no fim. A única diferença é que o policial de fato sempre tem um morto, tem um corpo, um crime, e o romance não policial não tem, necessariamente, mas é uma investigação, sempre, um desvendar de algo. Nesse sentido, todos os livros são romances policiais, alguns com morto, outros sem. O romance é sempre um desvendar de uma história que vai sendo revelada.

ZH – O fato de seus personagens serem escritores permite que o senhor aborde um universo que conhece em profundidade? 
Verissimo – Sim, é um meio de falar sobre esse universo do livro, da escrita, um mundo que eu conheço, e no qual me criei, digamos assim. É, fazendo uma retrospectiva  rápida, todos os romances são sobre esse universo.

ZH – O senhor é enquadrado, em estudos críticos, como um autor pós-moderno, pelo uso de artifícios como a metalinguagem, o elenco de referências, a paródia da tradição, o humor. O senhor concorda com essa definição ou se sente confortável com ela?
Verissimo – Eu nunca entendi muito bem o que é o pós-moderno. Acho que ninguém ainda me definiu muito bem o que é isso. Mas, no sentido cronológico, pelo fato de os romances serem relativamente recentes, dos anos 1980 para cá, acho que não me incomoda. Eu mesmo não me definiria assim, mas não vejo problema.

ZH – O Jardim do Diabo, sua primeira incursão no romance, vem de uma encomenda, mas apenas em 1987, quando o senhor já tinha uma reputação consolidada como cronista. Por que levou tanto tempo?
Verissimo – Eu não tinha nenhuma ideia de ser escritor ou jornalista, não foi uma decisão minha, apenas as coisas foram acontecendo. Também não tinha nenhum romance que eu precisasse escrever, não havia nenhum livro que eu tivesse dentro de mim e precisasse botar para fora. Então, a MPM Propaganda me encomendou um livro inédito, e este fato me deu a vontade de ver se conseguiria escrever um romance. Daí O Jardim do Diabo, que é um livro que hoje eu faria completamente diferente.

ZH – O que o senhor mudaria?
Verissimo – Não sei, acho que eu o faria mais bem acabado, como foi o romance seguinte, O Clube dos Anjos, que foi mais pensado, mais estruturado. O Jardim do Diabo foi se revelando aos poucos, eu nem sabia muito bem no que ia dar aquela história.

ZH – O protagonista de O Jardim do Diabo é um escritor de histórias sempre protagonizadas pelo mesmo personagem. Essa repetição é um comentário sobre o que é o próprio ofício da escrita? 
Verissimo – Sim. O escritor acaba se repetindo sempre, tem seus temas preferidos, que já estão predefinidos, e não consegue escapar deles.

ZH – O Clube dos Anjos retrata uma confraria de gourmets que, mesmo sabendo que podem estar sendo envenenados, não recusam o prazer intenso e marcante de comer seu prato preferido. É uma sátira ao hedonista contemporâneo?
Verissimo
 – Na verdade, o que é descrito no livro é um suicídio coletivo daquele grupo. Eles são todos fracassados, não têm mais nada o que esperar da vida e começam a se matar. Não conscientemente, mas por meio do prazer que eles têm com a comida. É um pouco um comentário sobre a vida da elite, a insensibilidade da elite, no caso a brasileira, mas que pode ser qualquer outra. E tem uma certa alusão no romance a essa constante na história dos grupos masculinos, que rejeitam as mulheres, uma coisa que é meio homossexual, embora não seja homoerótica. Todos os convivas do clube têm o nome dos apóstolos de Jesus e têm uma agressividade, um certo horror à mulher. Isso também estava na ideia do livro.

ZH – Em Borges e os Orangotangos Eternos o senhor tece uma história de crime com um escritor que de fato existiu. Mas o narrador é um homem ligado à Livraria do Globo. É um aceno à sua própria história familiar, uma vez que seu pai foi diretor e tradutor da casa por muitos anos? 
Verissimo – Sim. E aliás esse é um exemplo de uso de uma experiência minha, porque fiz algumas traduções para a (revista) Mistério Magazine, que existia na época, com contos policiais. Nunca, que eu me lembre, traduzi o (Jorge Luis) Borges, mas fiz o narrador do livro ser também tradutor da revista para a Globo.

ZH – É um livro que transgride a fórmula do policial, uma vez que o narrador, Vogelstein, repete muitas vezes o seu relato e a cada nova versão vai mudando detalhes. Até que a intervenção final do próprio Borges dá a entender que o narrador anterior estava mentindo. 
Verissimo – É, porque, na verdade, o livro é sobre um narrador inconfiável, que é uma tradição da literatura policial, o narrador que engana o leitor, e no fim se descobre que ele estava mentindo o tempo todo, que ele é o criminoso, embora narre o crime. O fato de ser autor do livro é uma forma de ele ser um cúmplice do crime. O autor é sempre cúmplice do culpado. Esse livro especificamente é sobre essa categoria do policial, o narrador inconfiável, como o próprio (Edgar Allan) Poe fez em algumas de suas histórias, ou o Roger Ackroyd, da Agatha Christie.

ZH – A própria intervenção do Borges ao fim é inconfiável.
Verissimo – Sim. E o Borges anuncia a própria morte no último capítulo, supostamente escrito por ele. A história se passa em 1985,e ele diz que vai morrer dali a um ano em Genebra. Então, tem esse lado fantástico que espera que o leitor tenha a mesma ideia do escritor: a de que tudo ali é um jogo, é falso, como é todo romance. Todo romance é uma invenção.

ZH – Outro narrador inconfiável em sua obra é o Polaco de O Opositor, que conta para o protagonista uma aventura em que os detalhes estão sempre mudando. 
Verissimo
 – Sim. O Opositor é uma versão do Coração das Trevas do Conrad, é uma alusão literária bem explícita. Mas a ideia dessa série era que cada autor escrevesse sobre um dedo da mão, e eu escolhi o polegar por ser o “dedão civilizatório”, aquele que marcou um salto na evolução da humanidade. A ideia inicial era o dedo, e aí cheguei ao Conrad.

ZH – Seu romance A Décima Segunda Noite reescreve Noite de Reis, de Shakespeare, em um salão de beleza em Paris, mas narrado pelo ponto de vista de um papagaio. Essa escolha pretende aumentar o efeito cômico ao dar ao animal a voz para julgar as bizarrices do homem? 
Verissimo – O ponto de partida desse meu enfoque da Décima Segunda Noite foi aquele filme Shakespeare Apaixonado, que mostra o Shakespeare enamorado por uma personagem dele sem poder consumar a relação de amor. Nesse meu caso, o narrador se apaixona por uma mulher, e como são de espécies diferentes, não conseguem nenhum tipo de aproximação. Eu escolhi, então, o papagaio porque é um exemplo de outra espécie que tem uma forma de inteligência, que sabe falar, e tudo mais. E esse papagaio também diria um pouco sobre como é a relação entre a Europa e o novo mundo. O papagaio é uma coisa extremamente exótica, mas o meu, na França, já perdeu todo seu exotismo e ficou com as penas cinzentas. Mas ele é, então, pintado pelo seu dono, para parecer um papagaio colorido. É um papagaio europeu que tem de passar por ave exótica.

ZH – A personagem que serve como estopim da trama de Os Espiões é a autora de um livro que assume o pseudônimo de Ariadne. A Ariadne grega conduz Teseu para fora do labirinto. A deste livro puxa os personagens para dentro de um?
Verissimo –
 A ideia desse livro é falar um pouco dessa compulsão, às vezes fatal, que a pessoa tem de escrever, seja um romance, um livrinho de poesia, em um país em que não há tradição literária. No caso desse livro e no caso da Ariadne, ela cria um labirinto ao contrário, ao redor do qual as pessoas circulam sem encontrar a entrada daquele mistério, o inverso do labirinto tradicional, no qual as pessoas não encontram a saída.

ZH – A sua faceta mais conhecida é a de cronista. Mesmo presente há mais de 150 anos na imprensa, ainda se discute o papel da crônica na literatura e sua validade como gênero. Como o senhor vê essa discussão?
Verissimo – Essa é a velha questão, o que é crônica, exatamente, quando é que deixa de ser crônica e passa a ser um pequeno conto, por exemplo. Mas acho que o cronista não deve se preocupar com isso. Ele tem aquele espaço que tem que preencher, que pode preencher teoricamente com o que ele quiser, inclusive com uma ficção, e ele não deve se preocupar muito com o que está falando. É o gênero crônica, e ali cabe o que o autor quiser. A gente se aproveita dessa indefinição como forma de liberdade. Acho que um fenômeno engraçado, que talvez só tenha no Brasil, é a quantidade de romancistas que acabam fazendo crônica. Não que voltem para crônica, eles fazem nome como romancistas e fazem crônicas. É um contato que o escritor tem com o público, semanal, que não é tão comum lá fora, não me ocorre nenhum outro exemplo, na França, nos Estados Unidos, na Inglaterra, que exista esse contato com o público de um romancista, não pela ficção, mas pela crônica do jornal, como João Ubaldo Ribeiro ou Milton Hatoum.

ZH – Esse fenômeno que o senhor aponta não pode ser resultado também de um  sistema literário que não permite a um autor viver de seus livros?
Verissimo
 – Exatamente, ninguém vive só da literatura. Antigamente as únicas exceções eram o Jorge Amado e o meu pai. Hoje, acho que as exceções continuam sendo poucas. Quem vive exclusivamente de seus livros? O Paulo Coelho, obviamente, talvez o Rubem Fonseca...

ZH – Alguns o incluiriam nessa lista. 
Verissimo – É, mas eu não viveria só de direitos autorais. O uísque das crianças depende ainda do jornal (risos).

ZH – O crítico Massaud Moisés escreveu que a crônica, compilada em livro, perdia mais do que a poesia, porque no jornal ela se beneficiava do imprevisto. O senhor, um autor de livros de crônicas que ainda circulam depois de décadas, como dribla essa natureza perecível do material?
Verissimo – Obviamente, a crônica tem que ter um apelo universal que não tem no dia a dia. Não está ligada a nenhum fato do cotidiano, nem pode estar muito ligada para não perder o sentido. Geralmente, as minhas crônicas que vão para o livro são aquelas que poderiam ser entendidas em qualquer tempo, daqui a 20, 30 anos, que teriam o mesmo valor de quando foram escritas, não foram modificadas pela realidade nem se tornaram obsoletas  ou incompreensíveis. E mesmo tentando fazer uma coisa mais literária, mais profunda, que tenha sentido em qualquer tempo, temos de manter a noção de que aquilo ali que está no jornal é perecível, no dia seguinte vai forrar a gaiola do papagaio ou já está no lixo. É uma maneira de não se dar muita importância e de aceitar a brevidade da relevância daquilo.

ZH – O senhor comentou que hoje muitos autores estão escrevendo crônicas em jornal, mas o tipo que se prolifera na imprensa é a opinativa, analítica. Aquele estilo que o Rubem Braga levou à maestria, o da linguagem acima muitas vezes do tema, hoje tem menos cultores. O Brasil ficou menos lírico?
Verissimo – Acho que sim. Aquela época, vamos dizer clássica, da crônica brasileira, com Rubem Braga, Paulo Mendes Campos, Antônio Maria, Fernando Sabino, tinha essa coisa lírica, como o Rubem Braga fazendo um texto inteiro sobre um ponto que ele vê no mar e que é um homem nadando. Havia um lirismo que se perdeu. Dentre todos esses nomes mais clássicos da crônica brasileira, eu gostava mais do Antônio Maria. Ele era justamente o que aproveitava mais a liberdade que a crônica dava, fazia humor, fazia uma coisa mais lírica, algo mais profundo. Ele inventava vários motes de fazer crônica. Ele tinha o que chamava de “romance do pequeno anúncio”. Pegava um pequeno anúncio de jornal, como alguém que estava vendendo o fogão, e inventava uma história em cima daquilo.

ZH – Há um risco em diálogos longos sem identificação dos personagens. Dependendo da extensão, o leitor se perde sobre quem está falando o quê. O senhor tem muitas crônicas que são puro diálogo. Leva em conta esse risco ao escrevê-las?
Verissimo –
 Levo sim. Eu gosto muito de fazer diálogos sem citar onde eles estão acontecendo, e dar a conhecer tudo sobre aquele personagem que está falando apenas pelas palavras. Mas sei que é uma dificuldade, então tenho de confiar bastante no revisor, porque às vezes entra travessão onde não deveria, a ponto de o texto ficar ininteligível. Já aconteceu.

ZH – Dos personagens de suas crônicas, o Analista de Bagé provavelmente ainda é o mais popular. É uma sátira à psicanálise ou ao gauchismo? 
Verissimo –
 Os psicanalistas acham que é uma gozação com o gauchismo, e os gaúchos acham que é uma gozação com a psicanálise, então fica todo mundo em paz.


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AS  OBRAS DE LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO

1) LIVROS


. AS  MENTIRAS  QUE  OS  HOMENS  CONTAM

   O best-seller As mentiras que os homens contam não julga, apenas constata. Os homens não mentem. E, se mentem, é porque precisam. Para poupar as mulheres — e, também, para se proteger delas.
Quantas vezes você mente por dia? Calma, não precisa responder agora. Também não é sempre que você conta uma mentira, só de vez em quando. Na verdade, quando você mente, é porque precisa. Para proteger o outro — e, de preferência, a outra. Foi assim com a mãe, a namorada, a mulher, a sogra. Tudo pelo bom convívio social, pela harmonia dentro de casa, para uma noite mais agradável com os amigos. Você só mente, no fundo, para poupar as pessoas e, sobretudo, para o bem das mulheres.
Luis Fernando Verissimo, este observador bem-humorado do cotidiano brasileiro, reúne em As mentiras que os homens contam um repertório divertido de histórias assim — tão indispensáveis que, de repente, viram até verdades. Depende de quem ouve. Depende de quem conta."

. SEXO  NA  CABEÇA
  
   Pode ser no quarto, no banheiro, no escritório, no elevador, na cozinha, na piscina ou, dependendo da imaginação do leitor, em locais menos óbvios e mais excitantes. Sim, estamos falando de sexo... Sexo na Cabeça, uma seleção das melhores histórias de Luis Fernando Verissimo sobre o assunto que mobiliza - e esquenta - multidões.
Verissimo, um dos cronistas mais sagazes da intimidade brasileira, mostra nesse livro que, para se pensar "naquilo", não há hora nem lugar - aliás, para se fazer, também não. Como um voyeur da nossa vida privada, ele nos revela os fetiches que alimentam as grandes paixões, o delicioso jogo da sedução, os sussurros açucarados - e ridículos - dos recém-apaixonados.
    Em 45 crônicas, com abordagens divertidas e excitantes sobre o tema, o autor leva o leitor ao êxtase. Em Sexo e futebol , por exemplo, traça um paralelo hilário entre o esporte e a libidinagem: "...No futebol, como no sexo, as pessoas suam ao mesmo tempo, avançam e recuam, quase sempre vão pelo meio mas também caem para um lado ou para outro e às vezes há um deslocamento. Nos dois é importantíssimo ter jogo de cintura (...)". Já em Nádegas redolentes, traz o conflito do casal sobre a melhor hora para o sexo: ela prefere antes de dormir, com banho tomado e aroma de lavanda, mas ele deseja a esposa no despertar matutino, com o cheiro natural do corpo.
    Das gostosas brigas do início do namoro à ousadia da trissexualidade, dos códigos da relação a dois ao amor internauta, Sexo na cabeça revela os segredos de alcova dos tempos modernos. O autor não se intimida nem mesmo diante dos grandes tabus que seduzem a humanidade desde que o homem é homem... e que o sexo é sexo.
    Sexo na cabeça é o quarto volume da série Veríssimo, que vai relançar toda a obra do escritor gaúcho pela Objetiva, em edições atualizadas e revistas pelo próprio autor. Luis Fernando Verissimo assina colunas diárias na imprensa brasileira, e tem obras adaptadas para cinema, teatro e televisão.

. A  MESA  VOADORA

    A Mesa Voadora traz uma seleção de 47 crônicas recheadas com dicas bem humoradas de quem transita com a mesma desenvoltura por sofisticados bistrôs de Paris ou pastelarias de beira de estrada. Apesar de não entender nada de cozinha, Luis Fernando Veríssimo entende bem, e muito, de comida. Neste livro o autor escreve deliciosamente sobre suas memórias gustativas. Delicie-se com este cardápio recheado de crônicas de dar água na boca!
    Aviso importantíssimo aos navegantes: não leia esse livro com fome! Durante a leitura tive uma vontade gigantesca de comer sanduíches, brownies e doces diversos, mas não precisa se preocupar com sua barriga roncando. Vá na fé e confie no seu estômago! Veríssimo nos mostra aspectos e pontos de vista no mínimo curiosos sobre a culinária, restaurantes e alimentos diversos.
    O Buffet é a primeira crônica e uma das que mais gostei. O autor brinca com os leitores sobre como se comportar em um buffet, suas vantagens, desvantagens e as batalhas que enfrentamos nesta situação, desde "garfar" as costelas do coleguinha que fica parado na fila analisando os pratos, até se estapear por aquele belo camarão. Por trás de todo esse humor há uma crítica sutil as pessoas que frequentam esses locais. Não apenas esse título em particular, mas todo o livro contém sempre um tom crítico, não deixando de lado a leveza e o lado cômico característicos do cronista.
    E quem nunca teve que passar pelo vexame de atrair a atenção de um garçom que insiste em não olhar para cá? É dos piores momentos da humanidade. Você levanta o braço para um aceno, o garçom não olha e você tem que improvisar: passa a mão no cabelo, coça a nuca, finge que está espantando uma mosca ou que viu um conhecido lá no fundo. “Oi, tudo certinho?” Tenta outra vez, o garçom continua não olhando, e é outro conhecido que você descobre no restaurante.

    Uma das situações mais engraçadas de A Mesa Voadora foi a revolta contra a pobre da salsinha não apenas uma, mas duas vezes no livro. A crônica fala que o tal "supérfluo verde" é apenas mero enfeite na comida e não serve para mais nada além disso.
    A criatividade do autor em transformar situações inesperadas e ignoradas por nós (como salsinhas e champignons) é algo admirável, ainda mais se tratando de comida. Veríssimo também narra suas experiências pessoais em viagens aos restaurantes da França, Alemanha, Londres e do Brasil. Só não entendi muita coisa das expressões francesas recorrentes e sem tradução, além de outras questões um pouco mais específicas do mercado da culinária mundial e que os leigos no assunto podem não entender muito bem, mas nada que atrapalhasse a leitura totalmente.
    A seleção de crônicas não segue uma sequência cronológica, portanto você verá a mesma história ou até a mesma situação em mais de um dos títulos do livro. Nada muito irritante, mas você percebe uma repetição de fatos pelo menos umas duas vezes. Pelo menos o autor avisou previamente que não se responsabiliza pelas confusões que isso poderia gerar.
    A Mesa Voadora é um livro delicioso e perfeito para tardes monótonas ou domingos aleatórios. Nem todas as crônicas são interessantes e engraçadas, pois a junção de mais de 40 histórias sobre o mesmo tema pode cansar até os mais entusiasmados, mas a maioria nos traz boas sensações. Destaco ainda outras das que mais gostei: Com champignon, A Fortuna (ótima!), Costela Marinada, Meninos (nostalgia total), A mesa e A Gorjeta é livre. Prepare os pratos, as talheres, a barriga e se delicie com Veríssimo.

. TODAS AS HISTÓRIAS DO ANALISTA DE BAGÉ
   
    Publicado originalmente em forma de crônica, e editado em diversos jornais do país, as histórias de O Analista retratam o estereótipo da personalidade típica dos bajeenses - ao menos assim é como o próprio autor o revela, na crônica inaugural.
O sucesso dos contos levou-o para as histórias em quadrinhos, com a publicação de um álbum pela editora gaúcha L&PM. Este, por sua vez, gerou uma nova série para a revista masculina Playboy, publicada em página inteira, entre os anos de 1983 e 1992. A versão em quadrinhos foi criada por Edgar Vasques em parceria com Veríssimo.
    As histórias, adaptadas para o teatro, estiveram em cartaz por diversas temporadas no eixo Rio-São Paulo.
    Na cidade de Bagé - RS existe uma estátua em homenagem ao personagem o Analista de Bagé.
    A personagem representa um gaúcho, psicanalista supostamente freudiano de linha ortodoxa de palavras marcantes e ilustrativo da sabedoria popular do Rio Grande do Sul. Sua assistente, Lindaura, auxiliava-o na abordagem de casos mais difíceis.
   Teve uma infância normal, onde o que não aprendeu no galpão, aprendeu atrás do galpão.
    O analista se diz "mais ortodoxo que pomada Minancora" ou que as Pastilhas Valda. Sua técnica do joelhaço, no entanto, é bastante heterodoxa, a depender do ponto de vista. Ela está baseada no princípio da dor maior, isto é, quando o paciente vem se queixar de suas dores subjetivas, o joelhaço aplicado no local correto oferece ao sujeito a vivência de uma dor tão mais intensa que faz com que se esqueça das dores "menores".
    O livro O Analista de Bagé, de Luís Fernando Veríssimo, é a combinação entre a rude sinceridade e a franqueza do homem do interior gaúcho. Textos paródicos que desmistificam o regional e a psicanálise.
    São 27 hilariantes histórias do impagável analista gaúcho, freudiano, machista, que costuma tratar seus pacientes a tapa. É um clássico do humor brasileiro. Com práticas pouco convencionais, o analista barbudo, macho e sistemático não deixa de picar fumo e tomar chimarrão nas consultas.
    Suas opiniões são hilárias, inclusive sobre a competente secretária Lindaura. O sotaque forte e suas conclusões sobre os problemas dos clientes geram uma combinação divertida.
Na obra, Luís Fernando Veríssimo apresenta as relações analista/cliente de forma irônica e debochada, fazendo alusões ao regionalismo, à política nacional, à intelectualidade – sempre de forma iconoclasta e irreverente.

. COMÉDIAS PARA SE LER NA ESCOLA

    Depois de ler este livro, duvido que algum jovem ainda seja capaz de dizer, sinceramente, que não curte ler. Aposto que, em sua maioria, os novos leitores vão se viciar em livro e sair procurando outros textos, de outros autores. Com vontade de, um dia, chegar a escrever assim. Quem sabe? O Verissimo nunca pensou que ia ser escritor quando crescesse. Seu negócio era mesmo um bom solo de saxofone. Mas com essa história de ser músico, desenvolveu tanto o ouvido que acabou assim: hoje ele ouve (e conta pra nós) até o que pensamos, sentimos e sonhamos  em silêncio. Em qualquer idade."

2) PERSONAGENS

A  VELHINHA DE TAUBATÉ
    A Velhinha de Taubaté é um personagem de humor brasileiro criado pelo escritor e cronista Luis Fernando Verissimo, durante o governo do general João Baptista Figueiredo (1979-1985).
    Famosa por ser "a última pessoa no Brasil que ainda acreditava no governo", como definido pelo próprio autor[2], Verissimo contava que, na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, sempre se pensava antecipadamente em como a velhinha iria responder.
Uma possibilidade para a cidade da personagem ser a de Taubaté é para formar a sigla VT (TV ao contrário).
    Em 25 de agosto de 2005, em tempos de crise do "mensalão", a velhinha teve o seu falecimento anunciado pelo seu criador, na crônica intitulada Velhinha de Taubaté (1915-2005). Ela teria morrido em frente à TV, decepcionada com o quadro político brasileiro, em especial com o seu ídolo, Antonio Palocci: Ela morreu na frente da televisão, talvez com o choque de alguma notícia. Mas a polícia mandou os restos do chá que a Velhinha estava tomando com bolinhos de polvilho para exame de laboratório. Pode ter sido suicídio.

         A morte da velhinha de Taubaté – Crônica de Luis Fernando Veríssimo
     “Morreu no último dia 19, aos 90 anos de idade, de causa ignorada, a paulista conhecida como “a Velhinha de Taubaté”, que se tornou uma celebridade nacional há alguns anos por ser a última pessoa no Brasil que ainda acreditava no governo.
    O fenômeno, que veio a público durante o governo Figueiredo, o último do ciclo dos generais, levou multidões a Taubaté e transformou a Velhinha numa das maiores atrações turísticas do estado.
    Além de estandes de tiro ao alvo e de venda de estatuetas da Velhinha e de uma roda-gigante, ergueram-se tendas para vender caldo de cana e pamonha em volta da pequena casa de madeira onde a Velhinha morava sozinha com seu gato, e não era raro a própria Velhinha sair de casa e oferecer seus bolinhos de polvilho a curiosos que chegavam em ônibus de excursão para serem fotografados com ela e pedirem seu autógrafo.
     A Velhinha sempre acompanhou a política e acreditou em todos os governos desde o de Getúlio Vargas, inclusive em todos os colaboradores dos governos militares, “até”, como costumavam dizer muitos na época, com espanto, “no Delfim Netto!”
    O presidente Sarney telefonava freqüentemente para Taubaté para saber se a Velhinha, pelo menos, ainda acreditava nele, e Collor foi visitá-la mais de uma vez para pedir que ela não o deixasse só.
     As circunstâncias da morte da Velhinha de Taubaté ainda não estão esclarecidas. Sua sobrinha Suzette, que tem uma agência de acompanhantes de congressistas em Brasília embora a Velhinha acreditasse que ela fazia trabalho social com religiosas, informou que a Velhinha já tivera um pequeno acidente vascular ao saber da compra de votos para a reeleição do Fernando Henrique Cardoso, em quem ela acreditava muito, mas ficara satisfeita com as explicações e se recuperara.
     Segundo Suzette, ela estava acompanhando as CPIs, comentara a sinceridade e o espírito público de todos os componentes das comissões, nenhum dos quais estava fazendo política, e de todos os depoentes, e acreditava que como todos estavam dizendo a verdade a crise acabaria logo, mas ultimamente começara a dar sinais de desânimo e, para grande surpresa da sobrinha, descrença.
     A Velhinha acreditara em Lula desde o começo e até rebatizara o seu gato, que agora se chamava Zé. Acreditava principalmente no Palocci. Ela morreu na frente da televisão, talvez com o choque de alguma notícia. Mas a polícia mandou os restos do chá que a Velhinha estava tomando com bolinhos de polvilho para exame de laboratório. Pode ter sido suicídio.
     O ambiente no parque de diversão em torno da casa da Velhinha de Taubaté é de grande consternação.

ED MORT

    Ed Mort é um personagem criado por Luís Fernando Veríssimo em 1979 como paródia das histórias norte-americanas de detetives, principalmente as de Dashiell Hammett e Raymond Chandler. É um detetive particular trapalhão e sempre sem dinheiro, que se mete em todo o tipo de encrencas. Ele divide seu espaço - um escritório em Copacabana, que ele chama apenas de "escri" porque é muito pequeno - com 117 baratas e um rato albino chamado Voltaire.
    Suas 17 histórias estão compiladas nos livros Ed Mort e Outras Histórias (1979) e Sexo na Cabeça (1980), publicados pela L&PM, e em Ed Mort: Todas as Histórias (2011), da Editora Objetiva. O personagem também foi adaptado para tiras diárias de quadrinhos desenhadas por Miguel Paiva, peça de teatro, especial de TV e para o cinema.
Quadrinhos
     Ed Mort foi publicado em tiras de jornal nos anos 1980, com texto de Veríssimo e desenhos de Miguel Paiva (criador da Radical Chic e do Gatão de Meia Idade). As tiras eram seriadas e cada história completa foi lançada em compilações pela L&PM:
Cinema
     Em 1997, Ed Mort virou um filme, dirigido por Alain Fresnot, com roteiro baseado no conto Procurando o Silva. O detetive foi interpretado por Paulo Betti. As filmagens duraram oito semanas e produção ficou em cerca de 1,5 milhão de reais.
     O detetive particular - que mora em São Paulo ao invés do Rio - é contratado por uma mulher misteriosa para descobrir o paradeiro do seu marido, Silva, especialista em disfarces e executivo das indústrias Delbono.
Televisão
     Em 1993, houve um especial de fim de ano da Rede Globo com Luis Fernando Guimarães no papel: Ed Mort - Nunca Houve uma Mulher como Gilda. O personagem voltou a aparecer, mais uma vez interpretado por Luís Fernando Guimarães, no Programa de Auditório, em 1994. E houve também um curta metragem produzido pelo Centro de Produção de Televisão e Bídeo: o CPTV.
Em 2011, o canal Multishow lançou nova série do personagem, com Fernando Caruso interpretando Ed Mort.
Teatro
    Em 1993 estreou no Rio uma adaptação de Procurando o Silva para teatro, com Nizo Neto como Ed e mais Julio Levy, Julia Miranda, Roberto Marconi, Claudia Puget e elenco. Adaptação e direção de Fernando Lyra Reis.

AS AVENTURAS DA FAMILIA BRASIL

    Um dos mais respeitados escritores do país, Verissimo adora desenhar e ler histórias em quadrinhos. Calado e muito observador, ele consegue, como poucos, entender e traduzir o universo da família brasileira. As tiras de Aventuras da Família Brasil reúnem alguns de seus personagens mais engraçados. Um pai trabalhador, mas que tem a profissão ignorada, uma mãe dona-de-casa, um filho adolescente, um neto pequeno e uma neta de colo, compõem essa divertida família.
    Verissimo faz graça das situações mais complicadas - que todo mundo, ou quase todo mundo, já viveu dentro de casa, ao driblar problemas financeiros, definir ética comportamental ou explicar para os mais novos como funcionava o mundo na época em que ainda não havia computadores. Tudo isso sem deixar de lado seu incomparável senso de humor, é claro.

 

 AS  COBRAS
     É uma dupla de personagens criada em 1975, no auge da ditadura militar brasileira (1964-1985) a série de humor estreou no jornal Zero Hora, de Porto Alegre no Rio Grande do Sul. Durante o período ditatorial, os dois personagens satirizavam a situação social e política por que passava o Brasil, sem deixar de lado as provocações em técnicos de futebol, religião e na classe política brasileira, tema recorrente até o ano de 1997, quando Luís Fernando Verissimo aposentou a série - mas vários jornais continuaram a reeditar suas tiras.






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