A CANÇÃO  DE  ROLANDO  (La  Chanson  du Roland)
    A Canção de Rolando é considerada o mais belo e o mais famoso poema épico medieval francês e pertence ao subgênero literário denominado canção de gesta, isto é, que trata de glorificar as proezas importantes de um herói nacional. 
    Esta história de origem germânica se baseia num fato histórico ocorrido no século VIII da nossa era: o ataque traiçoeiro à retaguarda das tropas de Carlos Magno quando atravessava os Pirineus voltando da Espanha para a França. Inspirou muitas lendas e sua popularidade fez surgirem inúmeras versões em toda a Europa, a tal ponto que os feitos dos bravos francos foram imortalizados não só nas cantigas dos jograis ambulantes como também em estátuas e vitrais, durante toda a Idade Média. 
     No Renascimento o tema reaparece entre os escritores italianos, com o Orlando furioso, de Ariosto, e o Orlando enamorado, de Boiardo. E com alguns acréscimos e remanejamentos, a história chegou ao Brasil desde os primeiros colonizadores, tendo-se difun¬dido em todo o nosso meio rural an¬tes de fixar-se nas cantorias dos artistas de cordel do Nordeste. O folclorista  Câmara Cascudo afirma que A História do imperador Carlos Magno foi,  até bem pouco tempo, um dos cinco livros mais lidos pelo povo brasileiro, pois indica um modelo de com¬portamento a ser adotado pelo homem do campo, que assimila as façanhas destes bravos à defesa de um ideal de coragem e valentia. 
    Apesar da roupagem antiga, o tema não pode ser mais atual: a eterna luta entre o Bem e o Mal, na qual o herói fiel e devotado se consagra até as últimas conseqüências, sem questionar a qualidade dos valores que abraça por achá-los justos. Daí o caráter um tanto simplista dos personagens envolvidos na batalha. Ora, em contextos diversos assistimos à retomada da mesma porfia, na história em quadrinhos e no cinema, que mostram aventuras de bandido e mocinho, tanto no faroeste quanto nos mundos intergaláticos ou nas peripécias de espionagem do agente 007. 
      (groups.google.com/group/livros-virtuais/.../1c0fa6148dfa214a) 

 
                 A MORTE DE ROLDÁN E DE SEUS DOZE PARES
     Em Ibañeta existe uma cruz de pedra em homenagem a Roldán (Roland), cavaleiro francês e comandante da retaguarda do exército do Imperador Carlos Magno. O “Vale de Valcarlos”, local onde está situado o referido marco, deve o seu nome ao do “Valle de Carlos”, pois, foi naquele local em que a retaguarda do seu exército foi atacada e teve de enfrentar os Sarracenos, no entanto reza a história da existência de indícios de que tenham sido os hispânicos de Navarra, País Basco e de Zaragoza que aniquilaram a retaguarda do exército de Carlos Magno.
    Roldán, ao ser atacado de surpresa, luta denodadamente com seus Pares e guerreiros, durante a luta, vê o seu amigo Olivier tombar morto ao seu lado. Ferido de morte faz soar sua corneta de marfim solicitando ajuda, pois o grosso das tropas estavam mais à frente sob o comando do Imperador Carlos Magno. Roldán ao perceber que vai morrer, prefere partir a espada a entregá-la ao inimigo. Conta à lenda que o mesmo pegando da sua espada, desfere um potente golpe contra uma rocha fendendo-a, mais não logra quebrar a famosa espada confeccionada no mais puro aço de Durandal.
    Quando Carlos Magno retrocede com a finalidade de atender ao chamado de Roldán e de seus Doze Pares, os mesmos já estavam mortos e o exercito da retaguarda completamente dizimados, a história informa que mais de 40.000 homens entre cristãos e sarracenos, morreram na referida batalha.
    O Imperador ao ver tal situação diz a lenda, finca os seus joelhos sobre o solo e com o rosto voltado para Compostela humildemente ora. Estávamos no ano de 778 e ainda faltava quase meio século para que descobrissem a sepultura do Apóstolo.
Vejamos as variáveis da lenda transmitidas de gerações a gerações em ambos os lados do Pirineos:
   No “Guia del Peregrino Medieval” na “Crónica del Pseudo Turpín”, ele relata de forma ingênua, a destruição do grosso dos dois exércitos o dos cristãos e dos serracenos:

    “Mientras Carlomagno atravesaba el puerto com Ganelón, Turpín y veinte mil cristianos, y los ya citados (Roldán y Oliveros e otros veinte mil soldados) formaban la retaguardia, Marsilio y Beligando (los caudillos musulmanes), salieron al amanecer com cincuenta mil sarracenos de los bosques y colinas donde, por consejo de Ganelón, habían estado escondidos durante dos días com sus noches, y dividieron su ejército en dos cuerpos: uno de veinte mil hombres y outro de treinta mil. El de veinte mil comenzó un ataque sorpresa contra nuestra retaguardia. Pero, al punto, los nuestros se revolvieron contra ellos y, después de combatirles desde el amanecer hasta la hora tercia (las 9 h), les hicieron sucumbir a todos: ni uno de los veinte mil logró escapar con vida. Pero en seguida, los otros treinta mil atacaron a los nuestros, que estaban sin fuerzas y extenuados por tan gran combate, y los abatieron a todos, desde el más pequeño hasta el más grande”.

     Uma outra versão da lenda informa que o rei Mouro de Zaragoza pediu socorro a Carlos Magno, este ao chegar às portas da cidade, encontrou-as fechadas pelos seus moradores, devido a essa situação, ordena o saque de Pamplona, e, na sua retirada, destruiu as suas muralhas. Como vingança, os Bascos o esperaram em Roncesvalles. Deixaram passar a vanguarda das tropas francesas e atacaram a retaguarda na qual marchava Roldán e os Doze Pares da França custodiando o botim. A emboscada segundo consta, ocorreu em 15 de agosto de 778. Roldán ao sentir a sua derrota e sua morte eminente, tenta quebrar sua espada de Durandal contra a rocha. Toca sua corneta mais inutilmente, pois o Imperador não chega a tempo para salvá-lo. Na missa do dia seguinte celebrada pelo arcebispo Turpín pelos mortos na batalha, Carlos Magno chora a morte de Roldán.
    As relações entre o Caminho de Santiago e Carlos Magno se entrelaçam com uma outra lenda segundo a qual o Imperador viu em sonho um caminho sinalizado pela Via Láctea, encaminhando-se assim para Compostela, onde está o sepulcro do Apóstolo.
    Com o episódio da morte de Roldán e de seus Doze Pares e com o relato do trágico gemido da sua corneta pedindo auxílio, Roncesvalles foi elevada à categoria de mito. Os peregrinos acorrem a venerar em Roncesvalles suas relíquias sagradas, as supostas armas desses heróis. Na Capilla de Sancti Spíritus o “Silo de Carlos Magno”, em cuja cripta serviu de ossuário dos peregrinos mortos no hospital que existia naquele local, situa-se a tumba mandada construir por Carlos Magno para Roldán e os soldados mortos na Batalha de Roncesvalles.
   A celebre “Chanson de Roland” - Canção de Roldán (Roland) - relatando o episódio histórico, é um clássico da literatura medieval, a canção foi composta provavelmente no século XI e é atribuída a um clérigo Normando chamado de Turoldo. Posteriormente foram surgindo outras composições que se agregaram à mesma formando um conjunto de histórias que passaram a fazer parte da mística do Caminho.


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Leia Mais
   Terminado o estudo do Ciclo Arturiano (Matéria  da  Bretanha), vamos ver agora o:                                        
                              CICLO  CAROLÍNGEO
    Esse ciclo das novelas de cavalaria tem como tema as histórias sobre o imperador Carlos Magno e os doze pares de França, também chamado Matéria da França.

                        Os  Doze  Pares  de  França
   Câmara Cascudo assegura que o livro de Carlos Magno e os Doze Pares de França teria sido um dos "livros de cabeceira" dos grandes poetas do passado. Era leitura frequente nas fazendas e engenhos nordestinos. A partir dessa obra, Leandro Gomes de Barros compôs dois "épicos" da Literatura de Cordel - Batalha de Oliveiros com Ferrabrás e Prisão de Oliveiros. João Melchíades Ferreira fez "Roldão no Leão de Ouro" e Antonio Eugênio da Silva fez "História do Principe Roldão", baseado na tradução portuguesa da obra, que tem por base a Chanson de Rolando. Vejamos o que diz a enciclopédia Wikipédia a respeito do assunto:

    "Dá-se a designação de Doze Pares da França à tropa de elite pessoal do rei Carlos Magno da França, formado por 12 cavaleiros leais ao rei, liderados por Rolando, sobrinho de Carlos Magno. A expressão "doze pares" se dá pelo fato dos doze cavaleiros terem extrema semelhança entre si, no que diz respeito à força, habilidade com armas e lealdade ao rei, e daí o termo "par". 

    Base histórica e mito 
   No século XI, os pares curiae eram os vassalos que auxiliavam o senhor feudal nas causas judiciais. Anteriormente, porém, na época carolíngia, já existiam os primi palatii (ou primi in curia), que eram os principais vassalos ao serviço do rei. Essa tropa de elite de Carlos Magno é citada na chamada Nota Emilianense, um comentário datado do século XI (c. 1054-1070) escrito no Códice emilianense 39. O autor espanhol da Nota Emilianense  confundiu-se ao crer que a palavra primi tinha o valor semântico de primos carnais e escreveu que Carlos Magno teria doze sobrinhos (""habuit duodecim neptis") já que, se todos eram primos entre si (primi), teriam de ser necessariamente sobrinhos de Carlos Magno. 
   Assim se explica a confusão amplamente divulgada, segundo a qual Rolando (protagonista da Canção de Rolando e principal dos pares de França) era o sobrinho favorito de Carlos Magno. Rolando não era, provavelmente, sobrinho do imperador, mas é possível que fosse um filho ilegítimo e incestuoso seu (fruto de uma relação entre Carlos Magno e a sua irmã). Esta é uma teoria bastante plausível, segundo os romanistas, comum para a época, e seria um dos motivos da preferência de Carlos Magno por Rolando.
   Os doze pares também podem ser vistos como personagens de ficção, protagonistas das obras medievais da denominada Matéria de França, um ciclo literário em que Carlos Magno e seus paladinos são os heróis principais. 
    A primeira obra conhecida do ciclo é A Canção de Rolando, uma canção de gesta francesa do século XII, que descreve de maneira fantasiosa a destruição da retaguarda do exército franco na Batalha de Roncesvales. Na batalha real, travada em 778, Rolando e outros paladinos francos foram massacrados numa passagem dos Pirineus por guerreiros vascones.    
   No poema, Rolando e os outros pares são traídos por Ganelão, um nobre franco que combina um ataque junto ao rei muçulmano Marsílio de Saragoça. Os mouros atacam e matam  todos na retaguarda franca, comandada por Rolando. Na segunda parte do poema, Carlos Magno regressa e vinga a morte de sua tropa de elite, conquistando Saragoça e executando Ganelão.
   A partir d'A Canção de Rolando surgiram muitas outras obras literárias medievais que apresentavam Carlos Magno, Rolando e os pares como campeões da luta da cristandade contra a ameaça islâmica. 
   A aliança celebrada entre a dinastia franca e a Igreja tinha fins estratégicos e políticos. Pretendia representar-se Carlos Magno como o modelo "homem cristão virtuoso" que governaria um vasto império sob os desígnios de Deus, o imperador que reuniria os reinos do Oriente e do Ocidente. Não é de estranhar, portanto, que estivesse rodeado de doze cavaleiros virtuosos e fiéis, os quais representam o modelo bíblico dos doze apóstolos. É possível estabelecer aqui, também, um paralelismo entre Ganelão e Judas: o vassalo traidor, responsável pela morte de Rolando, Oliveiros e todos os cristãos que pereceram na Batalha de Roncesvales.
                                       (pt.wikipedia.org/wiki/Os_Doze_Pares_da_França)

                          A Canção de Rolando
   A Canção de Rolando (em língua francesa La chanson de Roland) é um poema épico composto no século XI em francês antigo, sendo a mais antiga das canções de gesta escritas em uma língua românica. Teve enorme influência na Idade Média, inspirando muitas outras obras sobre o tema (a chamada "Matéria de França") por toda a Europa. Como outras canções do gênero, à época, era recitado por jograis nas cortes e nas cidades.
   O poema narra o fim heróico do conde Rolando, sobrinho de Carlos Magno, que morre junto a seus homens na batalha de Roncesvales, travada no desfiladeiro do mesmo nome contra os sarracenos. A base histórica do poema é uma batalha real, travada em 15 de Agosto de 778 entre a retaguarda do exército de Carlos Magno, sob o comando de Rolando, que abandonava a Península Ibérica, e um grupo de montanheses bascos, que a chacinou. Embora histórico, o acontecimento é retratado sem fidelidade histórica: os autores do massacre passaram de bascos a muçulmanos, e tanto essa alteração como o tom geral do poema explica-se pelo contexto das Cruzadas e da Reconquista cristã da península, que se viveu no século XI.

Origem e manuscritos
   Existem vários manuscritos medievais da Canção de Rolando em francês antigo, um dos quais escrito na variante anglo-normanda. Este último, conservado na Biblioteca Bodleiana de Oxford, é o mais antigo de todos e data de entre 1130 e 1170. Acredita-se, porém, que a primeira versão do poema possa ter surgido antes, derivada da tradição oral sobre a batalha de Roncesvalles.
     Aparentemente, uma das finalidades da narração da história de Rolando era a de animar os exércitos antes das batalhas. Nas obras de Guilherme de Malmesbury (Gesta regum anglorum, c. 1120) e Wace (Roman de Rou, 1160-1170) há referências a um poema sobre Rolando (cantilena Rolandi, na obra de Guilherme) sendo recitado antes da Batalha de Hastings, que conduziu à Conquista normanda da Inglaterra por Guilherme da Normandia em 1066. Wace e Malmesbury citam um jogral de Guilherme, Taillefer, como sendo quem recitou o poema. Não é possível saber, porém, até que ponto o poema mencionado é a Canção preservada hoje.
    O autor do poema é desconhecido. O último verso da obra diz Ci falt la geste que Turoldus declinet, mas esse tal Turoldo - de quem nada mais se sabe - poderia ser tanto o autor, o jogral ou o copista do poema.

Contexto histórico e mito
   A história narrada no poema é inspirada pela campanha militar que Carlos Magno, rei dos Francos, levou a cabo na península Ibérica em778, à época dominada em sua maior parte por muçulmanos. No curso da campanha, Carlos aliou-se a determinados líderes muçulmanos contra outros, saqueou Pamplona e sitiou Saragoça. Um levantamento dos saxões obrigou o rei a retirar-se para assegurar a fronteira oriental do reino. 
    No dia 15 de agosto de 778, a retaguarda do exército franco foi atacada por bascos cristãos ao transitar pelosPireneus - possivelmente na passagem de Roncesvalles (na atual Navarra, Espanha). Essa batalha ou escaramuça é citada por Eginhardo, biógrafo de Carlos Magno que, em sua Vita Caroli Magni (c. 830) relata que os soldados francos da retaguarda, incluído "Hruodland, prefeito das marcas da Bretanha" (Hruodlandus Brittannici limitis praefectus), foram todos mortos.
   A destruição da retaguarda do exército e a morte de Rolando passaram a ser material para os poemas cantados pelos jograis medievais, num contexto em que Carlos Magno era lembrado como o imperador que conduziu várias campanhas contra os povos pagãos da Europa, como os saxões e os muçulmanos ibéricos. Nos séculos seguintes, essas campanhas passaram a inspirar e a ser inspiradas pela  Reconquista e as Cruzadas, que também tratavam da luta entre cristãos e povos de outras crenças.
    A Canção de Rolando foi escrita três séculos depois dos eventos que a inspiraram, o que, junto com a mentalidade de Cruzada, explica em parte os erros históricos e anacronismos da narrativa. No poema, os bascos que atacaram os francos passaram a ser 400.000 muçulmanos sarracenos. Carlos Magno é mencionado pelo rei Marsílio como tendo 200 anos, quando na realidade tinha 36 anos na época da campanha, e é apresentado como imperador, quando era ainda apenas rei dos francos e só seria coroado imperador no ano 800
    Rolando, que era um comandante militar franco, é apresentado como sobrinho de Carlos. No poema, o rei retorna para vingar o sobrinho ao saber da emboscada que sofre a retaguarda. Na realidade, Carlos Magno só retornou à península em 801, quando tomou Barcelona e aí criou a Marca (fronteira) de Espanha. Os mouros (chamados sarracenos no poema) são caracterizados de maneira esterotipada e equivocada, revelando pouco conhecimento sobre o Islã. Assim, os muçulmanos são descritos como politeístas, adoradores de Maomé (retratado como um deus e não como profeta), Apolo e uma divindade chamada Tervagão (Tervagant), e não como monoteístas adoradores do mesmo Deus que os cristãos.
    Alguns historiadores acreditam que as canções de gesta em torno ao tema de Rolando e Carlos Magno foram particularmente cultivadas nos mosteiros ao longo do Caminho de Santiago, que liga a França a Santiago de Compostela e que foi a mais importante rota de peregrinação da Europa medieval. O caminho ao norte da península Ibérica passava pelos Pirineus, bastante próximo do lugar da batalha de Roncesvalles e próximo à fronteira com os reinos muçulmanos, que dominavam as regiões mais ao sul da península. Essas canções seriam assim parte importante do entretenimento e motivação espiritual dos peregrinos.

Sinopse
   O imperador franco cristão Carlos Magno luta contra os sarracenos (mouros) há sete anos na Espanha, mas uma praça ainda resiste:Saragoça, governada pelo traiçoeiro rei Marsílio. Marsílio e seus nobres, certos de que a derrota é inevitável, criam um plano para enganar os francos. Enviados de Marsílio prometem que ele será vassalo de Carlos Magno e que se converterá ao Cristianismo, uma vez que o imperador tenha partido da Espanha. Mas o rei sarraceno não pensa em cumprir o acordo: tudo não passa de uma maneira de fazer com que os francos saiam do seu território.
     Carlos Magno e seus vassalos estão cansados da guerra e não confiam em Marsílio. Entre eles estão o conde Rolando, sobrinho do rei, Oliveiros, amigo de Rolando, e Ganelão, genro de Rolando. Rolando aconselha não confiar em Marsílio, enquanto Ganelão quer terminar com a guerra já. Os conselheiros do imperador decidem então enviar uma embaixada a Saragoça, uma empreitada perigosa, porque Marsílio já matou enviados anteriores. Vários cavaleiros se oferecem, inclusive Rolando, mas o imperador não lhes dá permissão. Então, Rolando sugere Ganelão como embaixador, e o rei concorda. Isso aumenta o terrível ódio que Ganelão sente contra Rolando.
    Ganelão viaja a Saragoça. Num tenso encontro com Marsílio, os dois armam um plano para matar Rolando e seus companheiros. Ganelão lhes informa que poderão matar o conde quando os francos estejam retornando ao seu reino, pois fará com que Rolando esteja no comando da retaguarda. Ganelão promete aos sarracenos que, com o sobrinho morto, Carlos Magno perderá o ânimo para lutar.
  Ao retornar com os francos, Ganelão convence-os das boas intenções de Marsílio e consegue que Rolando seja o comandante da retaguarda. O conde é acompanhado por vinte mil homens e pelos chamados doze pares de França, os melhores cavaleiros francos. Entre estes estão Oliveiros, o grande amigo de Rolando, e o Arcebispo Turpino, que além de religioso é um grande guerreiro.
   No passo de Roncesvales, a retaguarda é vítima de uma emboscada, sendo atacada por vários batalhões de sarracenos que ascendem, no total, a 400.000 mil homens. Oliveiros implora a Rolando que soe o olifante - uma trombeta - para avisar as tropas de Carlos Magno, mas Rolando se recusa. Os francos lutam valentemente; Rolando, com sua espada Durindana e seu cavalo Vigilante, é o que mais inimigos vence. Mas os sarracenos são muitos e não há esperança para os cristãos. Quando já não há mais que sessenta francos, Rolando, usando as suas últimas forças, finalmente toca o olifante, para que Carlos Magno possa vir e vingá-los. Oliveiros o repreende pela sua arrogância: por não haver tocado antes o olifante, morrerão todos os nobres cavaleiros da retaguarda. Finalmente, morrem todos os francos. A alma de Rolando é levada ao céu por anjos e santos.
   Carlos Magno e seus homens, ao chegar, chocam-se com a visão do massacre. Ocorre então um milagre: o sol deixa de girar no céu, impedindo que anoiteça, e assim os sarracenos não podem esconder-se na escuridão. O exército franco persegue os infiéis até ao rio Ebro. Os que não morrem pela espada acabam mortos afogados no rio.
    Marsílio retornou a Saragoça, onde o ânimo dos muçulmanos é fraco. A sua mão direita foi decepada durante a batalha por Rolando. Baligante, poderoso emir da Babilônia, vem socorrer o seu vassalo. Em Roncesvalles, onde os francos enterram e lamentam os seus mortos, ocorre uma batalha entre as forças do emir e dos francos. O clímax da luta é um combate entre Baligante e Carlos Magno em que, com ajuda divina, o rei franco derrota o emir. O exército franco toma Saragoça, destruindo todos os itens religiosos islâmicos e judaicos da cidade. Todos os habitantes são obrigados a converter-se ao Catolicismoexceto a rainha Bramimonda, que é levada ao país dos francos, para que aceite espontaneamente o Cristianismo.
     Em Aquisgrão, a capital dos francos, começa o julgamento de Ganelão. Pinabel, eloquente parente de Ganelão, convence os jurados de que o réu traiu Rolando, mas não seu senhor, Carlos Magno. Thierry, um corajoso mas débil cavaleiro, argumenta que trair Rolando foi o mesmo que trair o rei, e desafia Pinabel a um combate. Durante a luta, com intervenção divina, Thierry consegue vencer. Ganelão é executado cruelmente: cada um dos seus braços e pernas são atados a um cavalo, que puxam cada um numa direção e assim seu corpo é esquartejado. Outros parentes de Ganelão, que tinham ficado do seu lado na disputa, são também executados.
    Bramimonda aceita o Cristianismo e é batizada, e tudo parece estar finalmente em paz. Mas, durante a noite, aparece a Carlos Magno o anjo Gabriel num sonho e lhe diz que deve partir para mais uma guerra contra os pagãos. Triste e cansado, mas obediente, Carlos Magno prepara-se para mais batalhas.

Forma poética
    O poema está composto por 4002 versos, agrupados em 290 estrofes. As estrofes têm um número irregular de versos, comuns na poesia francesa medieval e chamadas laisses. Os versos são decassilábicos (dez sílabas), sem rima, mas com o emprego da assonância, ou seja, da repetição de vogais com sons semelhantes nas sílabas tônicas dos versos de uma mesma laisse. Em todos esses aspectos a Canção de Rolando é uma típica canção de gesta francesa.
   O autor usa muitos paralelismos e repetições, contando e recontando algumas cenas de ângulos um pouco diferentes. Em geral, a narrativa é rápida, mas algumas passagens são contadas em muito detalhe. Quase não há descrição psicológica dos personagens, que são caracterizados mais por suas ações do que por suas reflexões. Muitas vezes o autor antecipa muitas estrofes antes, eventos do futuro, por exemplo a traição que sofre Rolando e a execução de Ganelão no final.

Personagens
     Eis uma lista dos principais personagens d’A Canção de Rolando.
§     Carlos Magno, à data dos eventos apenas ainda Rei dos Francos, dos Lombardos e dos Germanos; os seus exércitos combatem os Sarracenos na Espanha.
§    Rolando, o herói da Canção; sobrinho de Carlos Magno, lidera a retaguarda dos seus exércitos à saida de Espanha; morto pelas forças de Marsílio após valente peleja.
§     Ganelão (Ganelon), o traidor que encoraja Marsílio a atacar os francos,
§     Rei Marsílio (Marsile), rei mouro de Saragoça, na Espanha; é ferido por Rolando, vindo a morrer mais tarde devido a esse ferimento.
§     Oliveiros (Olivier), o amigo íntimo e prudente de Rolando, morto na batalha,
§   Turpino (Turpin), Arcebispo de Reims, baseado no histórico Tilpin, primeiro arcebispo dessa cidade entre 748 e 795.
§     Baligante (Baligant), Emir de Babilônia, Marsílio pede o seu auxílio contra Carlos Magno.
§  Bramimunda, Rainha de Saragoça, capturada por Carlos Magno e convertida ao Cristianismo.
§     Pinabel, que combate na ordália por Ganelão.
§     Thierry, que combate por Carlos Magno e Rolando no ordálio final.

Influência
     A Canção de Rolando e temas associados tiveram grande difusão na época medieval. Já em 1170 aparece uma tradução em alto alemão médio (Rolandslied), de autoria do Padre Conrado (Pfaffe Konrad). A versão alemã diminuiu o fervor patriótico francês do original e aumentou o caráter de propaganda das Cruzadas do poema. Mais tarde houve versões em holandês antigo (séc. XIII), em occitano(Ronsasvals, séc. XIV), em língua nórdica antiga (Karlamagnús saga) e em língua vêneta do norte da Itália. Nessa última região o tema de Rolando teve muita popularidade no Renascimento, em que aparece (como Orlando) nas obras de Matteo Maria Boiardo (Orlando innamorato, séc. XV) e Ludovico Ariosto (Orlando Furioso, séc. XVI).
     Vários lugares próximos ao lugar da batalha de Roncesvalles, na Catalunha e País Basco, possuem topônimos derivados do nome de Rolando. A sua fama chegou à Galiza e a Portugal graças aos peregrinos de Santiago, sendo conhecido também sob os nomes de Roldão ou Rolão.
                                                (pt.wikipedia.org/wiki/A_Canção_de_Rolando)




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                                    AMADIS  DE  GAULA
  Amadis de Gaula é uma obra marcante do ciclo de novelas de cavalaria da Península Ibérica do século XVI. Apesar de se saber que a obra existe desde, pelo menos, o século XIV, a versão definitiva mais antiga, actualmente conhecida, é a de Garci Rodríguez de Montalvo, impressa em língua castelhana em 1508 e denominada Los quatro libros de Amadís de Gaula. Tudo indica, contudo que a versão original era portuguesa, e muito anterior. O próprio Montalvo reconhece ter emendado os três primeiros livros e ser apenas autor do quarto.
   A versão original de Amadis de Gaula tem sido atribuída a vários autores portugueses. A crônica de Gomes Eanes de Azurara, escrita em 1454, menciona como seu autor um tal de Vasco de Lobeira, que tinha sido armado cavaleiro na batalha de Aljubarrota. No entanto, outras fontes indicam que o autor foi sim João de Lobeira e não o anterior.
   Seja como for, a única versão completa é a de Montalvo, que constituiu um enorme êxito em toda a Europa, sendo traduzida para as principais línguas da Europa ocidental, além dos originais castelhano e português. Vários autores, de vários países, escreveram sequelas de Amadis, inclusive o próprio Montalvo, com o quinto livro do ciclo, Las sergas de Esplandián. Em Portugal foram escritos vários romances do tipo de Amadis, sendo o mais famoso Palmeirim de Inglaterra, de Francisco de Morais.


Argumento

  A obra Amadis de Gaula, através de uma introdução em que se afirma que foi encontrada num baú enterrado do "manuscrito encontrado", inicia-se com o relato dos amores furtivos entre o Rei D. Perion de Gaula (Gales) e a Infanta D. Elisena da Bretanha, que deram lugar a uma criança abandonada numa barca. A criança, Amadis, é criada pelo cavaleiro Gandales. Mais tarde, Amadis vai em busca das suas verdadeiras origens, o que o leva a meter-se em fantásticas aventuras, sempre protegido pela feiticeira Urganda e perseguido pelo mago Arcalaus, o encantador. Atravessa o arco encantado dos leais amadores no centro da Ilha Firme, luta contra o terrível monstro Endriago, matando-o. Passa por todo o tipo de perigosas aventuras, pelo amor da sua amada Oriana, filha do Rei D. Lisuarte da Grã-Bretanha.
  Antes das modificações introduzidas por Montalvo, a obra acabava tragicamente, na sequência do que acontecia nas histórias do Ciclo Arturiano. Originalmente a história acabava com o Rei Lisuarte, mal aconselhado por conselheiros invejosos,  afastando Amadis do seu lado e tentando casar Oriana com um inimigo do herói. Este, resgata Oriana e leva-a para a Ilha Firme. Lisuarte declara guerra a Amadis, aliado a Galaor (ciumento de Amadis) e a Esplandian (que Lisuarte criou sem saber que era seu neto). Através de várias batalhas, Galaor enfrenta Amadis, que o mata. Lisuarte também é morto por Amadis em combate. Num terceiro combate o herói enfrenta Esplandian, sendo que desta vez é Amadis que é morto. Oriana que, de uma janela, observa o combate, ao ver a morte de Amadis, atira-se dali para o solo e morre. A feiticeira Urganda aparece e revela a verdade sobre os seus pais a Esplandian.
   A versão de Montalvo, no entanto, modifica todo este final trágico. Nesta versão, Lisuarte e Amadis fazem as pazes, conhece-se a identidade de Esplandian de uma forma menos trágica e Galaor nem sequer aparece na batalha. Para encerrar a obra, usa-se um subterfúgio que a faz terminar bruscamente. Lisuarte é encantado e Amadis assume a regência.


Manuscritos e edições

  Se a primeira edição impressa conhecida de Amadis data, como se disse de 1508, a criação do romance é, no entanto, muito anterior e remonta, ao que tudo indica, ao século XIV. Foi, pois, em meados do século XIV que o romance original foi escrito e dele circularam certamente variadas cópias manuscritas, das quais, infelizmente, nenhuma chegou até nós. Abundam, no entanto, os testemunhos da celebridade e difusão da obra, desde o final do século XIV e ao longo de todo o século XV (de referências cronísticas à onomástica, incluindo um cão chamado Amadis, em 1387). 
    É exactamente em meados do século XV que o castelhano Garci Rodríguez de Montalvo, cavaleiro de Medina del Campo, decide elaborar uma refundição corrigida dos antigos originais que estavam corrompidos e mal compostos em antigo estilo, por culpa dos diferentes e maus escritores, como ele próprio afirma no final do Prólogo à sua versão, à qual ainda acrescentará um novo livro. Posteriormente, escreverá uma continuação, Las sergas de Esplandián ("As façanhas de Esplandião"), sobre o filho de Amadis.
  A única versão que temos atualmente do Amadis (pelo menos no estado atual das investigações) é esta versão castelhana, corrigida e acrescentada, de Montalvo, elaborada muito provavelmente por volta da década de 1480.


Significado literário

  Também chamado Amadis sem Tempo pela sua mãe (aludindo ao fato de ter sido concebido fora do casamento, ela teria de o abandonar a uma morte provável), ele é o herói ibérico mais representativo do romance de cavalaria. As suas aventuras decorrem ao longo de quatro livros, sendo provavelmente as mais populares narrativas do seu tempo. Os livros mostram uma completa idealização e simplificação dos ideais do cavaleiro andante. A maioria das personagens são princesas, donzelas e cavaleiros. O estilo do livro é razoavelmente moderno, mas faltam-lhe os diálogos e as impressões das personagens, limitando-se à descrição da ação.
  Amadis de Gaula é muitas vezes referenciado no clássico satírico Dom Quixote de la Mancha, de Miguel de Cervantes, escrito no princípio do século XVII. A personagem D. Quixote idolatra Amadis e compara frequentemente as aventuras do herói com as suas.


Inserção na tradição arturiana

   Inserindo-se na tradição arturiana, o universo cujas personagens mais célebres são o rei Artur e os cavaleiros da Távola Redonda, de um ciclo geralmente conhecido como A Demanda do Santo Graal), Amadis de Gaula é indiscutivelmente uma criação peninsular, embora a sua datação e o seu autor continuem a levantar inúmeros problemas. Londres, Windsor e Bristol são espaços de eleição, assim como a Normandia ou mesmo a Dinamarca e a Noruega. Quanto a Gaula poderá corresponder quer a Gales, quer à Bretanha Francesa (ou Pequena Bretanha). À tradição arturiana deve Amadis de Gaula à sua estrutura, universo e valores - um mundo de aventuras cavaleirescas num universo de maravilha.


 Difusão da obra


  Inserindo-se nesta fecunda tradição literária medieval, Amadis é, no entanto, uma criação original, que ultrapassou largamente, aliás, as fronteiras da Península Ibérica e se transformou num dos romances de cavalaria mais lidos na Europa até, pelo menos, ao século XVII(com traduções quinhentistas nomeadamente para francês, inglês, italiano, alemão, holandês e hebraico). No espaço ibérico, as 19 edições castelhanas da obra apenas no período que medeia entre a primeira edição impressa conhecida (1508) até 1586 poderão exemplificar o seu enorme êxito. A sua fecundidade, em termos de obras diretamente nele inspiradas, é imensa, desde as inúmeras sequelas quinhentistas (narrativas das aventuras de netos, bisnetos, tetranetos, familiares e companheiros de Amadis) até aos grandes textos, como a Tragicomédia de Amadis de Gaula, de Gil Vicente ou mesmo, no registo paródico da despedida, Dom Quixote de la Mancha, de Miguel de Cervantes (que o abre, aliás, com um conjunto de poemas "da autoria" das principais personagens do Amadis, dedicados a D. Quixote, o novo "herói" cavaleiresco). 
   Do ponto de vista cultural, a influência de Amadis é igualmente enorme, estendendo-se mesmo a zonas inesperadas, como é o caso do nome dado à Califórnia (diretamente retirado do livro V).


  Amadis de Gaula foi bastante popular em toda a Europa graças às traduções. Na Espanha foram escritas várias sequelas da história. Em Portugal, Amadis de Gaula foi seguido por outras obras do mesmo estilo, nomeadamente:

§ Dom Duardos por Diogo Fernandes
§ Dom Clarisel de Bretanha por Gonçalves Lobato
§ Triunfos de Sagramor ou Livro primeiro da primeira parte dos Triunfos de Sagramor, rey de Inglaterra e Franca, em que se tratam os maravilhosos feitos dos cavaleiros da segunda Távola Redonda, por Jorge Ferreyra de Vasconcellos.

A questão da autoria 

   Todos os dados sobre a fortuna da obra, abundantes, mas incertos, originaram uma polémica, que subsiste, quanto à autoria e nacionalidade do Amadis de Gaula, que portugueses e castelhanos reivindicam. Para os defensores da tese de que o original seria em língua portuguesa (nomeadamente o Prof. Manuel Rodrigues Lapa), o seu autor poderia ser o trovador João de Lobeira (ativo na corte de D. Dinis), e a versão de Montalvo seria igualmente uma tradução. Para os defensores da tese castelhana (nomeadamente o seu último editor, Cacho Blecua), o seu autor continua anónimo, muito embora entendam que Montalvo refunde um original castelhano, de um autor castelhano.
   O fato de subsistir apenas a versão de Montalvo do Amadis e nenhum texto ou fragmento em português é, seguramente, um argumento de peso em favor da tese castelhana. No entanto, há um conjunto de outros elementos que mantêm o debate em aberto, dos quais um dos mais importantes é o fato de o Cancioneiro da Biblioteca Nacional de Lisboa, que reúne a obra dos trovadores e jograis galego-portugueses, incluir um poema também presente em Amadis - o lai de Leonoreta - atribuindo-o exatamente ao trovador português João de Lobeira. Ao mesmo tempo, no capítulo XL do livro I de Amadis, um certo D. Afonso de Portugal é colocado a intervir sobre a sorte de uma formosa donzela, apaixonada pelo herói (que lhe resiste, em preito de fidelidade à sua amada Oriana), sugerindo um desfecho mais "humano" para o episódio. Embora haja vários candidatos para este D. Afonso, o fato de ele ser nomeado no interior do próprio texto é, para os defensores da tese portuguesa, uma prova de que o romance teria sido efetivamente escrito em Portugal.
  Português ou castelhano, Amadis de Gaula é indiscutivelmente uma das obras mais marcantes da cultura medieval ibérica.

(Amadis de Gaula – Wikipédia, a enciclopédia livre pt.wikipedia.org/wiki/Amadis_de_Gaula)
  


Comentário de  Massaud Moisés 

  Na literatura quatrocentista sobressai a obra Amadis de Gaula (1508), uma das mais importantes novelas de cavalaria escritas na Península Ibérica, se não a mais importante excetuando o Dom Quixote, e cuja autoria continua a ser um intricado problema. Quem a escreveu? Em que língua?
  Desde cedo, sua paternidade se envolveu de mistério, dando origem a três correntes de opinião: a primeira, que ligava a novela à Literatura Francesa, está hoje inteiramente posta de lado; a segunda, defende a tese de que sua autoria se deve a um português; e a terceira, advoga a tese espanhola
   Militam em favor da tese portuguesa alguns argumentos, dos quais se apontam os seguintes: Azurara, em sua Crônica do Conde D. Pedro de Meneses (1454, 1. I, cap. G3), refere o nome de Vasco da Lobeira, tido por um dos autores da obra, juntamente com João de Lobeira; nos Poemas Lusitanos (1598), de António Ferreira, incluem-se dois sonetos alusivos ao episódio de Briolanja, personagem do Amadis (1. I, cap. 4U ) , o qual, por sua vez, interessa pelas recusas de Amadis às solicitações da donzela, por fidelidade a Oriana, apesar da interferência de D. Afonso, irmão de D. Dinis, em favor da solicitante; o lais dedicado a Leonoreta, inserto no Amadis, escrito em Português, teria sido composto por João de Lobeira, trovador do tempo de Afonso III e de D. Dinis; assim sendo, o trovador teria escrito também os dois livros iniciais da novela, a que mais tarde Vasco da Lobeira teria acrescentado o terceiro, o que explicaria ter-lhe Azurara mencionado o nome.
    Fundamentam a tese espanhola os seguintes argumentos: a primeira edição da novela é de 1508, em Espanhol, feita por Garci-Ordónez de Montalvo, que lhe teria acrescentado 0 4° livro e emendado os anteriores; as mais remotas referências à novela se devem a autores espanhóis, como a do Canciller Ayala em seu Rimado de Palácio ( cerca de 1380 ) ; no século XIV, Pedro Fernís, poeta do Cancioneiro de Baena, refere o Amadis em 3 livros; no século XV, é mencionado por vários escritores espanhóis.
  Não há, porém, argumentos cabais que permitam decidir acerca das duas teses citadas. Falta ainda encontrar qualquer prova mais concludente para dar por solucionado o problema, se bem que alguns pormenores internos façam pender a balança para o lado português, como foi notado inclusive por espanhóis, dentre os quais Menéndez Pelayo (Orígenes de la Novela, vol. I, págs. 345-6). Todavia, há pouco tempo se encontrou motivo suficiente para considerar o problema em definitivo resolvido, ou seja, "existe um fragmento do romance na nossa língua, do século XIII ou XIV, no arquivo dum aristocrata castelhano residente em Madrid". "Está, creio bem, desde agora, encerrada a velha questão do Amadis de Gaega ( . . . ) Podemos portanto dizer que as duas mais altas expressões do génio literário galego-português são o Amadis de Gaega e Os Lusíadas; e talvez não seja por mero acaso que essas duas obras-primas, surgidas com intervalo de três séculos, tenham como autores dois portugueses de origem galega: João Lobeira e Luís de Camões".
    A novela, reeditada várias vezes e continuada ao longo do século XVI, formando o ciclo dos Amadises, em 12 livros, filia-se ao longínquo trovadorismo amoroso. Amadis é um perfeito cavaleiro-amante e sentimental, vivendo em plena atmosfera do "serviço" cortês, caracterizado pela dedicação constante e obsessiva à bem-amada, a fim de lhe conseguir os favores. esse traço francamente medieval é equilibrado com frequente tendência sensualista. Dessa forma, ao platonismo amoroso se junta "um grande e mortal desejo" que incendeia o par de enamorados: Amadis e Oriana. É uma nota de primitivismo erótico, vulcânico e inebriante, desobediente a leis ou a convenções sociais e morais.
   O cavaleiro humaniza-se, terreniza-se, a ponto de, no livro 4 ° (tão diferente dos demais, pelo entrecho, pobre e monótono, e pelo estilo, cheio de "agudezas" forçadas), casar-se sacramentalmente para convalidar a antiga relação amorosa com Oriana. Nascem daí certos conflitos no espírito de Amadis, não os padronizados pela tradição mas os dum homem complexo, denso psicologicamente, "moderno"~ o homem medieval começava a dar vez ao homem concebido segundo os valores renascentistas, que então iniciavam sua invasão de modo franco e definitivo. Amadis anuncia o surgimento do herói moderno, de largo curso e influência no século XV e no XVI, servindo de verdadeiro elo de ligação entre um mundo que morria, a Idade Média, e outro que principiava a despontar, a Renascença, M. Rodrigues Lapa, "A Questão do Amadis de Gaula na Contexto Peninsular", Grial, Revista Galega de Cultura; Vigo, n " 27, Janeiro 1970, pp. 14-1$.
   O ciclo dos Amadises compõe-se dos seguintes livros, todos em Castelhano: Sergas de Esplandián (1510), escrito por Garci-Ordónez de Montalvo; Florisando (1510), por Páez de Rivera; Lisuarte de Grécia (1514), por Feliciano de Silva; Lisuarte de Grécia (1526), por Juan Díaz; Amadis de Grécia (1530), por Feliciano de Silva; Florisel de Niquea (1532), pelo mesmo autor; Florisel de Niquea (1535 e 1551), pelo mesmo autor; Silves de Ia Selva (1546), pelo mesmo autor.

(Massaud Moisés, A Literatura Portuguesa, auladeliteraturaportuguesa.blogspot.com/2008/.../amadis-de-gaula.ht.)
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